as mais mais de 2024
uma retrospectiva dos top #10 memes & trends que mais deram o que falar esse ano.
a despedida acontece mais cedo a cada ano, porque o mundo não para de capotar e parece que já estamos no dia 39 de Dezembro — com crises políticas na França e na Alemanha, idolatria por Luigi Mangione, TikTok ban-or-sale, impeachment na Coreia do Sul após lei marcial, OVNIs mais uma vez no céu dos Estados Unidos (e do Rio de Janeiro?), dólar disparadaço para além dos R$6 … o meme “já acabou, Jéssica?” nunca fez tanto sentido. talvez por isso tenhamos passado tanto tempo repetindo “que show da xuxa é esse?”, como um mantra da indignação e da busca por sentido.
ainda teria muita pauta quente pra nossa newsletter, mas vamos encerrar o ano por aqui com uma retrospectiva dos temas mais curiosos e diversos que invadiram a cultura rápida cronicamente online (sim, o brain rot é real, mas a gente também luta contra ele). são histórias que seguiram ganhando tração ao longo do ano e que tem força para gerar novas discussões em 2025.
1 * doomerismo vs hopecore
diante de uma sensação contínua de policrise, podemos nos identificar com os doomers, o quadro de uma geração que parece não ter fé no futuro, já que “tudo está perdido”, comumente compartilhado em memes. essa entrega ao cinismo recreativo é, bem ou mal, uma forma de rir do desespero. como não sucumbir?
porém, as mesmas mídias sociais que fomentam o medo ou apatia também apresentam o outro lado da moeda, uma trend que parece interagir muito bem com esse pessimismo: #hopecore, conteúdos com um tom ironicamente esperançoso e com algumas tentativas de POSITIVIDADE NÃO-TÓXICA. é o misto de “a vida é curta, seja feliz” com “tudo pode ser, só basta acreditar”.
2 * fubangacore
o Gshow deu só na semana passada, mas a gente trouxe lá em Julho: minissaia jeans, top de oncinha, brinco de argola, lingerie à mostra, vestido de piriguete, megahair, jet bronze, brilho, glitter, paetê, muito rosa, make carregada e, claro, tamancos — de plástico, de acrílico, de madeira, você escolhe. bem-vinda ao exagerado e divertido mundo do #fubangacore.
fubanga é um significante em disputa. para alguns, o termo é sinônimo de uma mulher que não se cuida ou que se cuida do jeito “errado”, porque chama atenção para si por razões supostamente "equivocadas”, das quais deveria até ter vergonha. por outro, fubanga é a expressão — ou a aesthetic — de estar mais em paz com a sua autoimagem e não ter medo de ser taxada de brega ou vulgar.
poucas trends captaram o tão bem o clima brat que paira no ar em 2024 como o manifesto pelo fubanguismo. “em um mundo atrolhado de clean girls, tenha coragem de ser fubanga.”
3 * traumatok
o empuxo euforizante do TikTok não tem limites, sabemos. mas continuamos scrolando. em uma das viradas mais surpreendentes, histórias tristes e traumáticas têm sido contadas como se fossem esquetes de humor, cheias de recursos divertidos como dancinhas e legendas debochadas. esse é o estranho mundo do #traumatok — um casamento muito inesperado entre a euforia do ENTRETENIMENTO CRÔNICO e a espetacularização do sofrimento que impulsiona o CULTO AO TRAUMA na paisagem midiática.
tão impressionantes quanto esses conteúdos é acompanhar as caixas de comentários. vale o alerta-gatilho!
4 * república federativa das BETs
um terço dos apostadores de bets está endividado e com nome sujo. o tema pegou considerando que o gasto com apostas esportivas aumentou 419% entre 2018 e 2023, os caça-níqueis online tornaram-se uma nova paixão brasileira, superando os EUA. quase 80% (!) dos brasileiros já se envolveram com apostas online, que vêm investindo cada vez mais pesado em mídia de massa. nesse ritmo, sai a onça pintada e, como novo símbolo nacional, consagra-se o jogo do tigrinho. e, assim, o Brasil se torna a potência mundial do azar.
pra rebater os PROBLEMAS DO DINHEIRO, a promessa de uma solução simples e milagrosa de acúmulo imediato de capital faz brilhar os olhos do brasileiro, num país onde o volume de trabalho é inversamente proporcional aos direitos básicos. 2024 foi o ano em que as bets se tornaram um problema de saúde pública. como dizem alguns usuários / vítimas, “é pior que droga”.
5 * isso sim é marketing!

esse nao entrou para a história como uma das melhores safras de memes no país que é “um meme que nunca dorme". e o varejo popular foi uma das maiores forças criativas da nação. tudo começou com a obra-prima viral da @criativa_bolsaspapelaria, que não demorou para se manifestar como uma poderosa trend no varejo nacional e virar um novo fenômeno de linguagem publicitária, em novas versões tão criativas e absurdas quanto a original.
comprovando nossa vocação de potência mundial de memes (e novas linguagens), até a badaladíssima LOEWE, candidata ao posto de melhor TikTok de marca do ano, entrou na trend. VIRALISMO a gosto.
6 * esposas troféu
as influenciadoras #tradwifes, aqui conhecidas como esposas-troféu, deram (e vão dar) o que falar, e seguem enfurecendo e/ou gerando compaixão em qualquer feminista. o enredo aqui é que a felicidade feminina está em prestar serviços ao marido e núcleo familiar, abraçando de corpo e alma o trabalho doméstico não-remunerado. é assim que elas edificam todas as convicções normativas de papéis de gênero em estilos de vida cada vez mais aspiracionais no culto das mídias sociais — e também, obviamente, no culto das igrejas — onde "sempre foi assim, desde que o homem é homem e a mulher é mulher".
a ideia de submissão e servidão aqui, teoricamente, não é sobre a opressão do patriarcado, mas sim uma decisão consciente de voltar a ter e exercer uma "energia feminina”. seria uma espécie de match perfeito para os red pills da machosfera?
7 * IA terapêutica
1 em cada 10 brasileiros faz terapia com ferramentas como ChatGPT e afins. são muitas as supostas vantagens: ajudar a nomear o que se está sentindo, sentir-se menos julgado e, a motivação aparentemente mais mencionada, estar sempre ali disponível para você. mas, será que uma máquina já substitui (ou vai substituir) a escuta de outro ser humano?
como bem descreveu Hannah Zeavin, autora de The Distance Cure: A History of Teletherapy, “sabemos que podemos nos sentir melhor escrevendo em um diário, falando em voz alta para nós mesmos ou enviando mensagens de texto para uma máquina”, mas isso não significa que é terapia, por mais terapeutizante que seja.
9 * o pêndulo da beleza
mas afinal, você tomaria A Substância? tem gente que, no caso, parece que tomou. é impressionante como o filme da Coralie Fargeat reverberou nas redes. especialmente numa quantidade de paródias, encenações e depoimentos de pessoas que sim, apostariam tudo para chegar na tão sonhada “minha melhor versão”. mas espera aí, as pessoas "entenderam" o filme? viram até o final?…
nessa batida, fomos contemplados com A Era do Indetectável, os casos de celebridades 40+ que simplesmente parece que mudaram de rosto de um dia para o outro, parecendo radicalmente joviais. como falamos no episódio DE REPENTE VELHOS, parece que o trisal velhofobia + padrões 'atingíveis' + indústria bilionária da beleza nunca esteve tão firme.
8 * anti-woke
acorda, menine! nas últimas eleições, o vereador mais votado em São Paulo foi o youtuber de direita, Lucas Pavanato: o vereador anti-woke. o resultado parece coincidir com o retorno midiático de grandes marcas que foram canceladas na última década, como Abercrombie&Fitch e Victoria’s Secret. para os gamers, tem até um detector de jogos woke.
em um mundo em que a extrema-direita se enxerga como contracultura, paira no ar um sentimento corrosivo no qual “as pautas de identidade” são um atraso para a civilização. tempos de um Iluminismo das Trevas / Dark Enlightenment — ou Dark MAGA, como nomeou o troll-in-chief Elon Musk.
10 * unhinged branding

nos corredores da internet, dizem que o mundo começou a dar errado quando quando as marcas passaram a se comportar como pessoas. o serviço de streaming comenta todo e qualquer acontecimento do dia, a varejista online faz posts sobre oração, a marca de cream-cheese diz ser sua grande amiga. e toda marca de qualquer coisa parece especialmente comprometida em estragar o meme do momento.
mas como o jogo do engajamento cobra preços altos, não basta ser fã da cultura online; é preciso apostar mais alto e, por que não?, ser hater. essa é a história de como muitas marcas têm se comportado como um dos arquétipos mais esquisitos, temidos e ovacionados das redes: o tuiteiro terrível.
estranheza, absurdismo, agressividade e uma boa dose de cinismo. são marcas de diversos segmentos deixando a formalidade de lado, abraçando linguagens e tons de voz mais nefastos com a clara intenção de provocar e bagunçar. é o puro suco da ECONOMIA DA TENSÃO, o produto de um contexto em que é cada vez mais difícil romper o mar de mesmice das redes.
encerramos o ano curiosos com o-que-vem-por-aí-não-dá-para-saber-ainda™️, e desejando uma dose bem equilibrada de esperança, realismo e imaginação.
… e nosso muito obrigado a nossos colaboradores, leitores, ouvintes, apoiadores e assinantes!
como sabemos, coisas acontecem, pessoas mudam e, em 2025, seguiremos vibrando juntos. ❤️ 💚 💙 bons futuros por aí!
Retrospectiva cremosa. E tão presente. Mais doido ainda é reciclar referências e publicações de vocês de 2 ou 3 anos atrás.