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IA terapêutica, a ruptura de gênero e os concursos de sósias

IA terapêutica, a ruptura de gênero e os concursos de sósias

uma breve seleção de objetos culturais, linguagens, casos e fofocas que você não sabia que queria ficar sabendo.

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Nina Grando
nov 26, 2024
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IA terapêutica, a ruptura de gênero e os concursos de sósias
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IA terapêutica

tudo começa com um pedido de correção de texto. depois vêm as interações cheias de educação, cuidado e cortesia. até que você pede um conselho, quem sabe até uma ajuda para escrever uma mensagem de término de um relacionamento. e, quando menos espera, está trocando mensagens profundas, expondo problemas e recebendo respostas extremamente empáticas.

o Brasil ocupa o 4º lugar no uso do ChatGPT. segundo um estudo da Talk Inc, 13% das pessoas afirmam usar a IA como amiga/conselheira, sentindo que há um “alguém” do outro lado da tela. considerando que 31% afirmaram não ver problemas com pessoas que decidem se casar com uma IA, não é de espantar que 1 em cada 10 brasileiros faça terapia com ferramentas como ChatGPT e afins. o clássico meme isso é muito Black Mirror continua para-sempre-atual.

midnighthowlinghuskydog
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robôs como terapeutas são uma ideia antiga, testada inclusive em projetos como ELIZA, um software criado no MIT na década de 1960 que simulava conversas e dava aos usuários a impressão de estarem sendo compreendidos. a novidade é a curva de adoção massiva — e a quantidade de empresas que prometem saúde mental acessível e instantânea via chatbots e modelos de linguagem. Woebot, Willow, Koko e o próprio ChatGPT têm sido usados como apoio, complemento ou apenas um ombro amigo para desabafar. as mídias sociais trazem uma enxurrada de “tutoriais” para terapeutizar essas ferramentas. não é a toa que Max Fisher definiu as redes sociais como “A maquina do caos”, não é mesmo?! 🫠

@lanzengReplying to @Michelle | Toronto using @chatgpt for mental health and therapy #chatgpt #aitherapy #aitips
Tiktok failed to load.

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segundo os relatos compartilhados, são muitas as supostas vantagens: ajudar a nomear o que se está sentindo, sentir-se menos julgado e, a motivação aparentemente mais mencionada, estar sempre ali disponível para você. são discursos que revelam como, em uma condição cronicamente online, muitos de nós nos tornamos cada vez mais intolerantes a ausências, intervalos e insuficiências, como num caso hipercoletivo de “angústia de separação”.

Freud desenvolveu a ideia de que aprender a tolerar essa angústia é uma parte fundamental do desenvolvimento infantil. estamos regredindo psiquicamente mimados por uma tirania da total conveniência? como escreveu o antropólogo Barclay Bram, "como um algoritmo poderia substituir a humanidade do atendimento presencial?" ou mesmo… será que mais uma interação digital é realmente a solução quando já estamos tão patologicamente apegados às nossas telas?

a tal capacidade "empática" da AI é dos argumentos que mais percebemos por aí, mas do que exatamente estamos falando? empatia seria a capacidade de “escutar”? ou quem sabe a habilidade de dizer o que o usuário espera ouvir? parece que poucos mecanismos psíquicos na atualidade high-tech parecem tão presentes quanto o viés de confirmação — quando a mente só aceita aquilo em que acredita. o puro suco do INCONSCIENTE ARTIFICIAL.

para além de apontar os riscos desmedidos desse uso da IA, também é preciso interrogar e escutar o que está por trás da demanda, ou seja, o que motiva as pessoas a terapeutizarem a IA…? para grande parte da população, o atendimento clínico para saúde mental ainda é caro e inacessível, ou precário. no Brasil, ainda que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) sejam uma boa referência para outros países, existeuma considerável necessidade de expansão para atender às demandas existentes.

nessa mesma direção, a epidemia global de solidão parece um fator-chave da questão, considerando que até 73% dos mais jovens afirmam sentirem-se "muito sozinhos com frequência". sendo assim, soluções cada vez mais desumanizadas em prol de “escalar” não parecem uma medida muito responsável. os limites éticos do uso das ferramentas — e ausência de regulamentação — vêm se tornando debates cada vez mais acalorados, conforme episódios cada vez mais graves vêm à tona... como o adolescente que tirou a própria vida, após considerar o CharacterAI da Daenerys Targaryen sua única companhia e ser incentivado a “juntar-se a ela”.

como bem descreveu Hannah Zeavin, autora de The Distance Cure: A History of Teletherapy, “sabemos que podemos nos sentir melhor escrevendo em um diário, falando em voz alta para nós mesmos ou enviando mensagens de texto para uma máquina”, mas isso não significa que é terapia, por mais terapeutizante que seja.

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Luisa Ferreira
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