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doomerismo VS hopecore, o fenômeno Pé de Chinesa e o dilema do dump

doomerismo VS hopecore, o fenômeno Pé de Chinesa e o dilema do dump

uma breve seleção de objetos culturais, linguagens, casos e fofocas que você não sabia que queria ficar sabendo

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Andre Alves
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filipe rossato
set 05, 2024
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doomerismo VS hopecore, o fenômeno Pé de Chinesa e o dilema do dump
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doomerismo VS hopecore

o décimo quarto mês seguido de recorde de calor. a maior seca da história do Brasil. queimadas em… todo o país afetando o PIB. diante de mais essa avalanche de informações (Agosto é sempre um mês pesado para quem acompanha dados sobre o clima), surge com frequência um meme que, muitas vezes, é visto como o melhor representante de uma geração: os doomers. são os profetas do “é tarde demais”, “não adianta se importar” e “já está tudo perdido”.

você certamente já ouviu esse discurso muitas vezes. em algum canto remoto do seu inconsciente, você provavelmente até concorda. e convenhamos que esse pessimismo derrotista que agencia a inação e a apatia em alguma medida parece inevitável. estamos acompanhando com dados, gráficos e mapas o colapso de alguma coisa que a gente ainda não consegue nem mensurar direito o que é. afinal, o que dizer depois de 380 cientistas do clima se declararem desesperados?

nesse caso, o vórtex do catastrofismo se alimenta de uma mistura alucinante de dados concretos e bem embasados, manchetes sensacionalistas e falta de perspectivas positivas para enfrentar o problema. pronto, você está mais que autorizado a vibrar ANSIEDADE CLIMÁTICA. se, em 2014, o artista colocou pedaços de iceberg para derreter no meio de Londres, essa “simulação da catástrofe” já não é mais necessária. em 2024, o mundo entra em MODO DERRETIMENTO bem na nossa frente.

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a identificação com memes de uma persona fumante, com olheiras, que se entrega ao cinismo recreativo é também uma forma de rir do desespero — ou até um PESSIMISMO DEFENSIVO. no entanto, também sabemos que esse derrotismo meio recreativo é uma forma eficiente de se entregar à apatia, inclusive um discurso programado para gerar gatilhos de inação. mas como não sucumbir?

a cientista do clima Hannah Ritchie acha que dá pra resolver. o Bill Gates (e a Netflix) também. mas em um nível muito menos denso e embasado, a incubadora de medo e ódio que chamamos de mídias sociais vem produzindo uma outra trend que parece interagir muito bem com esse pessimismo: #hopecore.

entre os bilhões de exemplos de #hopecore, há desde casos de celebridades vencendo em grandes premiações, até obiamente… golfinhos, muitos golfinhos, mais ou menos irônicos. há quem proclame que todos os problemas - sejam eles quais forem - serão resolvidos. simples assim! são conteúdos com tom esperançoso, positivo e até algumas tentativas de POSITIVIDADE NÃO-TÓXICA. mas o puro suco da trend é, basicamente, o bom e velho “a vida é curta, seja feliz” + “vai tudo dar certo, basta acreditar”. e, num cruzamento perfeito com a fé das redes, o que não der certo no presente, dará no futuro, porque Deus escreve certo… enfim, você entendeu.

@hopecorelover313The best man 🥹 We must be able to find positivity in all things, in small gifts, great announcements, slightest interactions, and unanticipated surprises, we must be willing to live our lives to the fullest. Follow to stay on hopecore 🫶 #hopecore #wholesome #positivity #fyp #jesus #fypシ
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o lance é que tanto o doomerismo quanto o hopecore movem-se num jogo que se retroalimenta. não é doomerismo VS hopecore, mas sim doomerismo + hopecore. quando a esperança vaga não se cumpre, o doomerismo toma conta. quando o derrotismo intoxica demais, a esperança vã acalma o espírito, mesmo que isso signifique cultivar frustrações futuras. e a ênfase nessa positividade vai suavizando a complexidade das emoções - e da realidade. é como se o oposto do pessimismo não fosse um otimismo desvairado, mas sim uma esperança calma e consciente.

redescobrir o poder da política em nossas vidas, nesse caso, pode ser um poderoso tratamento para a ansiedade climática. um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU mostrou que a interrupção imediata do acúmulo de carbono na atmosfera teria efeitos positivos já em um prazo entre 3 e 5 anos. ou seja, existem futuros melhores possíveis, existem estudos e tecnologias que poderiam nos ajudar nessa transição, mas isso não ocorrerá com a simples “força do querer”. uma pena, eu sei, o pensamento mágico do TikTok é tão fofinho.

por isso mesmo é importante não ceder à tentação de soluções fáceis ou de imaginários individualistas de sucesso. é ficar com o problema, como diria Donna Haraway, para trabalhar nossa ética e responsabilidade — e nos comprometermos com as complexidades e contradições do mundo, reconhecendo também os limites da nossa ação nesse mesmo mundo. e tendo muito cuidado com os discursos-armadilha que tomam as redes. dá tempo? dá. mas teremos de ser bem menos ingênuos se queremos produzir mudanças reais.

“Existe uma linha tênue entre reconhecer a extensão e a gravidade dos problemas e sucumbir a um futurismo abstrato, aos seus afetos de sublime desespero e suas políticas de sublime indiferença.” 

— Donna Haraway, Ficar com o problema: fazer parentes no chthluceno


a cada newsletter, a editoria do memes & trends em análise da floatvibes é feita por diferentes pesquisadores convidados. dessa vez, a curadoria foi de Filipe Rossato, artista visual, editor de vídeo, escritor e autor do projeto Filiril, que discute questões sócio-ambientais e cultura pop.


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