VIRALISMO #02 : ECONOMIA DA TENSÃO
treta, conflito, ódio e outras negatividades como ferramentas de engajamento.
cuidado, conteúdo sensível ⚠️ cenas de violência. pilhas de histórias estapafúrdias. publis e anúncios apelativos-cringe por todos os lados. e inúmeros posts um tanto equivocados. quantas coisas que você viu, leu ou ouviu na última semana te deixaram totalmente incrédulo ou em choque?
navegar pelas apostas do VIRALISMO das mídias sociais é consumir — e ser consumido — por bafos, babados e lacrações que, não raro, nos deixam bastante abalados, pelo menos por alguns segundos. ficamos abismados, mas seguimos o barco, esperando uma dose ainda mais forte que possa nos afetar novamente. desenvolvemos rápida tolerância, mas o mundo (ou a internet) aumentam a intensidade pra tentar nos provocar alguma euforia de novo. um estranho jogo em que a única regra vigente parece ser “não há limites para o pior”.
em uma época em que somos tragados e intoxicados pelo excesso de conteúdo, poucos veículos parecem tão bons em reportar o nível caótico do Real quando o portal Choquei. "um tiro no escuro que deu certo” — é assim que Raphael de Souza, fotógrafo goiano de 28 anos, descreve a sua grande criação. seguir o portal Choquei é uma experiência alucinante de se surpreender e/ou indignar o tempo inteiro, seja com a gravidade das notícias ou com a sua suposta irrelevância… dos sustos da corrida eleitoral aos escândalos da última temporada da Fazenda, das intrigas da Copa do Mundo às fofocas da farofa da Gkay.
é uma mistura de clima apreensivo do Boletim do Fim do Mundo com uma displicência no melhor estilo Casa Kalimann, besuntada por uma sagacidade digna do Saint Hoax. é exatamente esse tom de voz alarmado (mas também meio descompromissado) que faz com que tantos conteúdos do portal virem memes, simplesmente por serem o que são, atravessando a internet como balas perdidas.
no lugar da clássica e até esperada imparcialidade dos veículos de notícias, o portal posta na primeira pessoa, entra na piscina do BBB e conta com correspondentes muito qualificados que também fazem campanha para redes de fast-food. o Choquei se comporta como a mais alta casta dos jogos da viralidade: os meme lords. são perfis com uma aura mágica, temidos e idolatrados, capazes de tirar pessoas do anonimato mas também transformá-las em motivo de chacota.
para o Choquei, esse poder vem da capacidade de engajamento dos mais de 18.5 milhões de seguidores no Instagram. segundo a Piauí, durante a campanha presidencial, todos os dias, o Choquei apareceu mais que André Janones em menções em grupos de WhatsApp. é um sinal de que, no atual cenário midiático e informacional, há cada vez menos separações entre informação e entretenimento. assim como as trincheiras de memes e opiniões a respeito da invasão na Ucrânia, vivemos um estado de guerra: a guerra pela viralidade.
nessa vibe, não somos mais tão orientados pela informação, mas sim pelo conteúdo. o objetivo da comunicação não é mais necessariamente informar, explicar ou até educar, mas sim incitar reações — o que importa é que você curta, comente, se inscreva & compartilhe. ou até odeie. às vezes, sem razão. como descreveu o artigo The Content Culture Crisis (A Crise da Cultura do Conteúdo), o conteúdo que consumimos hoje “é um fenômeno em que uma unidade de conteúdo é tão autorreferente que se torna sem fundamento, sem nenhum ponto a fazer, sem sentido”. é a história do “criador de conteúdo” que, todos os dias, posta praticamente a mesma foto sem camisa. seria um empobrecimento do Simbólico?
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