fubangacore, a volta do Pop e o ano do Terror
uma breve seleção de objetos culturais, linguagens, casos e fofocas que você não sabia que queria ficar sabendo.
fubangacore
minissaia jeans, top de oncinha, brinco de argola, lingerie C.S., vestido de piriguete, megahair, jet bronze, brilho, glitter, paetê, strass, rosa, muito rosa, make carregada e, claro, tamancos — de plástico, de acrílico, de madeira, você escolhe. bem-vinda ao exagerado e divertido mundo do #fubangacore, onde ex-participantes de A Fazenda como Andressa Urach, Denise Rocha e MC Filé são orgulhosamente dubladas.
aqui, o hit de 2013 da Anitta, Meiga e Abusada, encapsula a personalidade ousada do espírito fuby. cafonas pra muitos. musas inspiradoras para tantos, com toda uma energia e uma estética própria que só crescem nas mídias.
fubanga é um significante em disputa. para alguns, o termo é sinônimo de uma mulher que não se cuida ou que se cuida do jeito “errado”, porque chama atenção para si por razões supostamente "equivocadas”, das quais deveria ter vergonha. por outro, fubanga é a expressão — ou a aesthetic — de estar mais em paz com a sua autoimagem e não ter medo de ser taxada de brega ou vulgar.
até porque, esses são termos radicalmente subjetivos e, muitas vezes, extremamente normativos. segundo fontes seguras das internet, ser fubanga é ter personalidade, é poder sair numa sexta à noite com um look que custou 20 pila (mesmo que pudesse pagar mais por isso). é se libertar da tentativa de controle e opressão da ditadura da moda e do bom gosto — “em um mundo atrolhado de clean girls, tenha coragem de ser fubanga.”
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o êxtase vibrante que fala tão alto aqui contrasta com a busca por sobriedade e elegância que dominou parte do imaginário feminino nos últimos anos. você sabe do que estamos falando: o cabelo liso em coque, os tons nudes, terrosos e pastéis, a maquiagem “cara limpa”, yoga e pilates, alimentação saudável. a estética “garota limpa” estabeleceu expectativas bastante irrealistas que nunca mostram realmente quanto esforço é necessário para se atingir e manter esse estilo de vida.
ate porque, no minimalismo de prateleira tão idolatrado pelas básicas perfeitas, o discurso é de “apenas o essencial”, mas a prática geralmente envolve um consumismo desenfreado de produtos de skincare, suplementos, copos Stanley ou garrafas Pacco e quantas leggings couberem no guarda-roupa.
nesse sentido, a rigidez desse estilo de vida vêm sendo implodido por posturas propositadamente desequilibradas, inconsequentes, trashy, unhinged. trata-se de um contexto no qual brat, o álbum-fenômeno de Charli XCX, seria uma espécie de manifesto anti-clean-girl, segundo o qual uma vida feliz é mais caótica, hedonista, politicamente incorreta, sem sutiã e sem medo de usar o mesmo vestido todos finais de semana durante um mês. é a controversa camiseta da Namila.
seguindo nessa direção, a exorbitância do #fubangacore nos provoca a notar que o que parece desnecessário e exagerado pode também ser um sopro de ar fresco.
ou um combustível para a problematização social da gentrificação estética e da liberdade sexual feminina… estejam essas fubanguetes mais ou menos consciente de tudo isso.
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vale destacar que o movimento tem um quê de variação do bimbocore, estética (ainda mais) pink, “hiperfeminina” e pós-irônica de ícones pop que são vistas como garotas estúpidas, como Trisha Paytas e Paris Hilton, e que são reinterpretadas como mulheres inteligentes que fingem ser idiotas burras para manipular os homens. esses são movimentos análogos, que produzem uma estranha mistura de emancipação e empoderamento através da auto-objetificação e do culto a celebridades dignas do finado site Ego. as fubies são netas do Slut Pop, da Maddy de Euphoria, e claro, da Suelen de Avenida Brasil.
na raiz dessa trend, paira no ar um questionamento fundamental: afinal, o que é bom gosto? e quem define o que é sofisticação ou refinamento? perguntas como essas assombram a cultura há séculos, e são parte do pacote do patriarcado que legisla sobre o corpo, o psiquismo, os atos e, obviamente, a imagem da mulher. as regras dessa cartilha sempre tiveram um alto grau de nitidez e rigidez. como provocou a psicanalista Marie Helene Brousse em Mulheres e Discursos, culturalmente e socialmente as mulheres são constantemente reduzidas a determinados significantes identificatórios: mãe, esposa, santa, feiticeira e puta.
só que, nos últimos anos, as coisas ficaram um pouco mais complicadas, e os estereótipos clássicos tornaram-se insuficientes e até mesmo insuportáveis. a diva Britney Spears é um desses grandes exemplo: considerada ingênua, insípida e excessivamente sexualizada por tantos, agora parece perfeitamente compreensível: o público exigia que ela fosse sedutora, inocente, impecável e lucrativa, e ela desmoronou diante da impossibilidade de atender a demandas tão contraditórias.
como defende a escritora Jia Tolentino no ensaio O culto da mulher difícil, “o sexismo se manifesta independentemente de quem seja a mulher, independentemente de seus desejos e de sua ética. e uma mulher não precisa ser um ícone feminista para resistir a ele — ela pode simplesmente ter interesses próprios, o que nem sempre é a mesma coisa”.
nesse sentido, #fubangacore soa como um sinal de que muitas mulheres estão menos interessadas na rigidez de arquétipos femininos ou nas imposições do que é bom gosto e bom comportamento. e sim, a subjetividade feminina merece muito mais do que a decência de uma garota limpinha e discreta.
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