“mas e o Twitter…vai acabar?” poucos episódios da história da internet foram tão impressionantes quanto o #elongate: estimou-se que 32 milhões de usuários poderiam vir a deixar a plataforma. enquanto isso, dados de cerca de 235 milhões de usuários parecem ter vazado. e o homem mais rico do mundo quebrou recordes de maiores perdas de fortuna. depois da conturbada negociação, guiada prioritariamente por tweets, Elon Musk concluiu a compra do Twitter em Novembro de 2022 e, em um mês, a plataforma começou a colapsar.
um dos principais sinais da derrocada foi o anúncio do Twitter Blue, serviço de US$ 8 por mês, através do qual, qualquer pagante poderia adquirir seu próprio selo de verificação. em poucas horas, diversos perfis "fakes verificados” surgiram para confundir os usuários e o mundo inteiro, aplicando golpes ou simplesmente fazendo piada. o personagem Mario da Nintendo, por exemplo, fez gestos obscenos através de uma conta falsa, e uma skin um pouco mais liberal do presidente Joe Biden tuitou sobre masturbação e pornografia.
usando a mesma verificação falsa, uma conta fingiu ser a farmacêutica estadounidense Eli Lilly & Co e tuitou que a insulina passaria a ser grátis no país. o mercado entrou em pânico, e a empresa perdeu US$ 30 bilhões em valor de mercado. provavelmente nunca existiu um exemplo na história do tecnoneoliberalismo em que uma farsa de US$ 8 tenha gerado um prejuízo de US$ 30 bilhões.
#elongate é mais um evento que nos faz pensar sobre como a vida de tantas pessoas e empresas são drasticamente (e verdadeiramente) afetadas pela internet — e nos faz questionar sobre como o sistema em que vivemos tornou-se assim tão frágil e tão volátil. é mais um indício de que tantos sujeitos digitais confundem tweets indignados com ações concretas, partindo da crença amplamente difundida de que todo influenciador é automaticamente um agente de transformação. pode até ser, mas não necessariamente do jeito que se imagina, planeja ou deseja.
por décadas, tratamos os fundadores de empresas de tecnologia como mitos, heróis, semi-deuses — cuja intolerância e idiotice são apenas traços excêntricos que devemos relevar em nome de tanto brilhantismo. no lugar de questionarmos (e até tratarmos) os seus delírios, enxergamos as suas loucuras como previsões visionárias e perspectivas inevitáveis de futuro. amplificamos as suas visões através de artigos, biografias, filmes, séries, posts, VIBES e outras unidades de conteúdo que reforçam a ideia de que essas pessoas, muitas vezes até doentes, são geniais. em outras palavras, apreciamos, incentivamos e financiamos as suas distorções da realidade e viramos agentes das suas fantasias.
Fake it 'til you break it
sim, Elon Musk é um ícone do VIRALISMO. e, assim como já havia tumultuado até a guerra na Ucrânia, o troll-in-chief mais uma vez fez aquilo que sabe fazer de melhor: ser o agente do caos. aclamado como Pessoa do Ano de 2021 pela revista Time, Musk representa um tempo em que posts em redes sociais são capazes de criar e arruinar fortunas em um piscar de olhos. um tempo em que ideias e apostas valem mais do que qualquer coisa. é uma fórmula perigosa que combina especulação, viralidade e novas leis de mercado que estão muito além do espectro dos bilionários. e o que não faltam são exemplos recentes…
como esquecer o emblemático caso da Gamestop? um movimento de investidores que, através de um fórum do Reddit, provocou, em um mês, um aumento de 750% nas ações da rede de lojas de videogames. com ecos de occupy, essa história também fez com que um garoto de 10 anos se tornasse milionário do dia pra noite, enquanto o fundo que inicialmente apostou contra a empresa foi à falência. de novo, mais importante que os fatos em si é a comoção causada pela saga — ou seja, aquele documentário na Netflix que virá depois para nos entreter e nos impressionar com a surrealidade dos acontecimentos. na disforia do VIRALISMO, sucessos e ruínas gerados pela especulação viram divertimento para as massas.
como descreveu o escritor estadounidense Roger McNamee, "o que Elon Musk realmente quer é uma novela na qual ele é a estrela e o único ator que importa." mas não são apenas os bilionários que parecem esperar ue sejam recompensados por suas estratégias de especulação. Elon é um exemplo de como estamos um tanto alucinados com as possibilidades de criar a nossa própria mega-sena acumulada.
tudo isso remonta um dos debates centrais do nosso tempo: veracidade e confiança. nunca estivemos tão desconfiados da mídia e do governo, ao mesmo tempo em que nunca estivemos tão preocupados com fake news que alimentam tantas narrativas e golpes ao nosso redor. é um contexto pós-objetivo, em que, não raro, os sentimentos se sobrepõem aos fatos do Real e as percepções tornam-se fatos temporários.
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