um dos hits mais relevantes de 2023 é “Heart on My Sleeve”, faixa que circulou principalmente no TikTok, como grande dueto entre Drake e The Weeknd. o mais interessante dessa história é que nem Drake nem The Weeknd realmente produziram tal canção — que foi gerada por Inteligência Artificial por um usuário chamado ghostwriter977. o caso jogou ainda mais lenha na fogueira movida por tecnologias como ChatGPT da Open AI e geradores de imagens como o midjourney e DALL-E.
ainda sobre os gigantes da música, um novo último disco dos eternos The Beatles foi recentemente anunciado com a participação, diretamente do além, de John Lennon (via IA). enquanto uns apontam como tudo isso representa um iminente colapso da indústria criativa, outros acreditam que tais produções são o elemento central de uma narrativa sobre o quão imaginativa e divertida a IA pode ser.
o debate ficou ainda mais quente com a campanha publicitária em que o fantasma high-tech da cantora Elis Regina dirigiu uma Kombi elétrica ao lado da versão carne-e-osso de sua filha, Maria Rita. depois de muitos textões acalorados que geraram ainda mais visibilidade à campanha, quem ganhou mesmo foi a VW, cujo filme teve mais de 630 milhões de impactos orgânicos só nas primeiras 24hs. é a ECONOMIA DA TENSÃO girando a roda e gerando lucros.
“(trata-se de) uma escravidão de mortos, já que eles trabalham sem nenhuma forma de consentimento. […] o nível de alienação atinge um patamar até então impensável. Sua personalidade não é mais sua. Depois de morto, você pode continuar a agir a partir dos interesses de rentabilização das empresas e corporações.”
— Vladimir Safatle, Sobre vampiros e capital
são recursos de maravilhamento que parecem dobrar a aposta em uma produção industrial de produtos culturais de massa, em ritmo acelerado e vertiginoso. é como se não importasse mais tanto se o Drake fez ou não esta música, ou se é parecida demais com todas as outras; o que importa é que temos a notícia de um novo hit para dançar e cantar. mesmo que seja meio descartável demais.
afinal, estamos diante de mais uma tecnologia que cria coisas inéditas e surpreendentes ou apenas consolida o EFEITO MID?
EFEITO MID é a hegemonia de objetos culturais, posturas, atitudes e conteúdos que são simplesmente ok. são assumidamente medíocres, talvez até levemente entediantes, altamente comprometidos com a mesmice. “passa de ano”, é “suficientemente bom”, está no meio. tudo vai ficando bem semelhante, como se a cultura fosse um grande moodboard de referências parecidas, puro suco da monocultura. em A Obra de Arte na era de sua Reprodutibilidade Técnica, Walter Benjamin nos avisou que a originalidade ficaria atrofiada, mas não nos disse que tudo ficaria tão chato.
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