tesão fantástico, desprodução de conteúdo e sonhos artificiais
uma breve seleção de objetos culturais, linguagens, casos e fofocas que você não sabia que queria ficar sabendo
tesão fantástico antirrealidade broxante
por onde anda seu tesão? a imaginação tá fértil ou mal levanta voo? como já trouxemos na edição “romance à la dorama”, muitos de nós andamos um tanto decepcionados com os aplicativos de pegação/relacionamento, sonhando com encontros slow burn igual às séries coreanas. enquanto isso, o booktok tem tido fantasias, digamos, mais quentes. muito mais quentes. fantasias doutromundo.
personagens folclóricos sempre fizeram parte da imaginação sexual coletiva. só que no lugar dos tradicionais vampiros, sereias e elfos, muita gente anda querendo ir ainda mais longe. o tesão agora vai para monstros alienígenas, cobertos por escamas, garras e línguas extralongas. um oferecimento da tag SmutTok, com quase 1 milhão de vídeos dedicados à literatura erótica. será que isso significa que os terráqueos andam meio sem graça?
em um dos episódios do “Meu (In)consciente Coletivo”, podcast da Tati Bernardi, a escritora e roteirista reflete sobre como anda difícil deixar o prazer — e a fantasia — fluir no atual estado da corrida pelo match perfeito. uma safra de “homens precavidos” têm, logo nas primeiras mensagens, deixado muito claro (e talvez claro demais) o que pretendem e o que não querem de jeito nenhum.
“oi, estou interessado em você, mas não quero me casar. estou à procura de algo casual, e não pretendo namorar pelos próximos 8 meses”. o relato vai de encontro aos comentários bem humorados no TikTok sobre homens exigentes demais, e que adoram especificar com todas as palavras quais mulheres (ou homens) fazem “o seu tipo”.
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seja no caminho mais cuidadoso ou na sua variante mais tóxica, as listas de requisitos e exigências parecem estratégias de controle das expectativas, tudo ao melhor estilo PAIXÕES BLOQUEADAS.
só que, como bem sabemos e tentamos esquecer, se tem uma coisa que não dá pra pedir do encontro erótico é coerência. é aquele ditado, né mores, “não peça coerência ao mistério, nem lógica ao absurdo” (obrigado, Lygia Fagundes Telles). ou como já diziam os sábios pensadores contemporâneos… “deixa acontecer naturalmente”.
parece que, no campo dos encontros e desencontros tão minimamente calculados, a grande questão é: onde foi parar o mistério? o descontrole? e o estranho? 👽
a dança com a loucura que topamos toda vez que entramos no campo da paixão? o cinema segue nos provocando, como nos jogos de ciúmes de Challengers ou na dominação aterrorizante de Babygirl.
seguindo nessa direção, o thriller erótico e o tesão fantástico talvez tenham algo em comum: o temor como elemento fundamental do encontro erótico e das relações. o erotismo flerta com a ficção científica há muito tempo, afinal de contas. seja o monstro que pode me devorar ou o/a dominador/a que vai me submeter.
medo e excitação estão mais intimamente envolvidos do que gostamos de admitir. como diz o psicanalista Darian Leader, são duas interpretações psicológicas diferentes para uma reação fisiológica que é praticamente igual nos dois cenários. e talvez por isso mesmo a cultura esteja precisando ir mais longe… para se deixar, enfim, temer. é um caminho mais interessante do que apenas ter medo do tesão, não é mesmo?!
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