Lafufus e a artificialidade autêntica, a era da des-comunicação e nothing beats a Jet 2 Holiday
uma breve seleção de objetos culturais, linguagens, casos e fofocas que você não sabia que queria ficar sabendo.
Lafufus e a artificialidade autêntica
se você passou os últimos meses em um bunker sem wifi, pode ter tido a sorte de não ter sido impactado pelos monstrinhos que tornaram-se onipresentes na internet. 2025 entrará para a história como o ano dos indicadores de recessão e, claro, pelo Labubu Summer. e vamos de histeria coletiva:
originalmente criados pelo Hasing Lung, designer de Hong Kong, os bonequinhos de pelúcia são comercializados pela marca chinesa Pop Mart, empresa chinesa que ultrapassou a Vale em valor de mercado; a Pop Mart está avaliada em US$ 42 bilhões, enquanto a Vale está avaliada em US$ 41 bilhões. a febre mundial se intensificou desde que celebridades como Kim Kardashian e Lisa começaram a ostentá-los por aí. o fato de os bonecos serem vendidos em caixas surpresas, sem a possibilidade de escolha, aumentando ainda mais o apelo e o sucesso do produto. efeito unboxing, #old.
mas quase tão renomados quanto Labubus são suas (inevitáveis) cópias — ou dupes — os Lafufus. eles surgem em um cenário em que os originais ficaram cada vez mais raros e, por isso, inflacionados com preços que podem chegar a R$1.600 em sites de revenda. assim como os originais, os Lafufus também oferecem uma surpresa ao serem abertos, mas, nesse caso, as surpresas vão além das variações de cor: podem incluir um olho maior que o outro, sorrisos tortos ou qualquer outro tipo de aleatoriedade, resultado da ausência de um “padrão de qualidade” oficial.
no caso dos Lafufus e de seus primos brasileiros, os Tribufus, existe um fenômeno curioso acontecendo: a internet parece ter abraçado essas cópias de uma forma bastante divertida, criando narrativas próprias para estes personagens, livres das expectativas que recaem sobre os originais. e assim surgem infinitas possibilidades de customização que vão desde o Lafufu tatuado ao Lafufu de ouro.
aqui, o CULTO AO FAKE parece atingir seu estágio máximo conforme os Lafufus e Tribufus derivados são modificados e destroçados como expressões de criatividade. tem o Lafufu cantor, o cavalo Lafufu ou os infinitos embates entre Labubus e Lafufus. sem falar na infinidade de comparativos entre originais e falsos.
mais acessíveis em preço e disponibilidade, os Lafufus também parecem estimular um lugar anárquico que confronta o que é considerado original e questiona a própria ideia de autenticidade. em tempos de redes sociais e viralização, o que é amplamente utilizado e replicado ainda pode ser considerado original? e aquilo que nasce milimetricamente pensado para ser controverso, mas acaba viralizando e sendo copiado, continua sendo autêntico?
habitamos um momento sócio-histórico em que a diversão está precisamente na distorção. tão ou mais fascinante que os produtos originais é testemunhar até onde as pessoas são capazes de esticar a corda: as fantasias, os outfits, os tutoriais de maquiagem, os biscoitos. é falso? não é mais sobre isso.
lá em 2023, a float publicou uma análise sobre a ARTIFICIALIDADE AUTÊNTICA, que amadurece não apenas como estética, mas também ética do nosso tempo. trata-se de um sintoma coletivo que torna a inautenticidade estranhamente real. habitamos um estado de tamanha distorção da realidade e de nós mesmos que a pergunta “mas isso é real?” parece até descartável. sim, queremos e precisamos saber o que é verdade, mas também ressentimos amargamente qualquer realidade que coloque nossas ficções em perigo. e o que acontece quando a crueza do real se torna insuportável? recorremos todos a formas de regressão coletivas, e tudo bem.
Continue a ler com uma experiência gratuita de 7 dias
Subscreva a floatvibes para continuar a ler este post e obtenha 7 dias de acesso gratuito ao arquivo completo de posts.