VIBES: ILUMINISMO DAS TREVAS
o crepúsculo de um movimento que faz uso da tecnologia para apagar as luzes.
um cybercarro / tanque de guerra futurista explode em frente ao hotel do presidente dos EUA. bilionários tentam dominar (ainda mais) o mundo. assassino de CEO se torna Robin Hood sex icon. uma das cidades mais ricas do planeta continua em chamas, enquanto o uso de água e energia em data centers dispara para ajudar a matar a sede crescente e insaciável da Inteligência Artificial.
o ano de 2025 começou, e (já) é difícil evitar o sentimento de que estamos imersos em um roteiro de ficção científica alucinante e alucinado. ou de um episódio muito especial e muito longo do Boletim do Fim do Mundo.
e vamos de plot twist!
em um anúncio tão escandaloso quanto brusco, Mark Zuckerberg, dono de duas das maiores plataformas sociais do planeta, deu um cavalo de pau ao eliminar checadores de fatos e colocar a moderação nas mãos dos usuários. o CEO da Meta associa checagem e moderação a censura e enviesamento, apelando para o chalalá da liberdade de expressão. para alguns, o tech magnata está tentando evitar a perseguição anunciada por Donald Trump. para outros, o alinhamento ao trumpismo é mais severo. mesmo com o protesto aberto de checadores de fatos do mundo todo sobre o tamanho do retrocesso que está acontecendo, não resta dúvidas de que Zuck foi de arrasta pra direita — pra extrema direita.
Zuck não se transfigurou em um completo MAGA-bro do dia para a noite. o makeover vem acontecendo há um bom tempo. primeiro, abandonou o terno, depois os sapatos, em seguida deixou crescer o corte de cabelo do imperador Caesar e passou a lutar abertamente. afirmou que um de seus maiores arrependimentos é “pedir desculpas demais". então, veio a nomeação do ‘chefão’ do UFC para o conselho de administração da Meta. e por fim, passou a ostentar o bronzeado e o relógio de pulso de US$ 900.000. o chef's kiss do rebranding pessoal é a atitude bad boy que ostentou em sua recente conversa com o guru da masculinidade online, Joe Rogan.
como escreveu a jornalista Taylor Lorenz, nem Zuck e nem a Meta se preocupam de fato em proteger a liberdade de expressão, mas sim em agradar aos conservadores ao invés de regulamentá-los. a questão é que Zuck não está sozinho. os CEOs e representantes de empresas como Amazon, Apple, Google e Microsoft vêm se amigando do novo presidente dos EUA. até Trump se surpreendeu. as razões são nítidas: essas empresas precisam do apoio de Washington para combater ações regulatórias fora dos EUA, como na União Europeia e no Brasil.
tudo isso revela o fim definitivo da boa face das techs. uma indústria que obviamente sempre foi — e sempre será — sobre lucro. a Meta não está “voltando às suas raízes”, como alegou Zuck, mas sim revelando-as. não se trata de defesa da liberdade de expressão, mas sim do asseguramento e proteção dos seus resultados financeiros estratosféricos enquanto o mundo empobrece. como diz o Pedro Doria:
“Zuckerberg está oferecendo ao novo presidente suas plataformas para distrair à vontade o público americano. Em troca, pede que o peso do Estado americano seja usado para enfrentar Europa, Canadá, Austrália, e, sim, o Brasil. O governo dos EUA tem melhores condições de pressionar para evitar a regulação desses negócios americanos.”
o setor tech acumulou uma quantidade de poder imensurável nas últimas duas décadas, um poder do qual os líderes da indústria jamais irão abrir mão. mas o pior está na crescente influência de suas ações, com consequências políticas, culturais, sociais e de saúde pública. se os governos democratas passaram a ser vistos como inimigos do setor tech, para figuras como Marc Andreessen, que está no comando de um dos principais fundos de venture capital dos EUA, a eleição de Trump foi como “se tirassem uma bota de cima da sua garganta. toda manhã eu acordo mais feliz do que no dia anterior.”
mas vamos pensar como os efeitos de tudo isso são potencialmente mais danosos em tempos cronicamente online. as mídias sociais são o mainstream, e se tornaram a maior fonte de informações do mundo. como tantos livros, artigos e estudos já concluíram, à medida que a comunicação se torna mais mecanizada e “social”, ela gera mais confusão do que compreensão, mais conflito do que harmonia. nessa batida, o setor tech tem contribuído para trazer à tona o que há de pior em nós, conforme analisa o jornalista Nicholas Carr em seu novo livro, Superbloom: How Technologies of Connection Tear Us Apart.
seguindo nessa direção, o que estamos vendo a céu aberto é o mundo tech tentando se desvencilhar de qualquer responsabilidade pelo estado atual das coisas. algo que, mais uma vez, traz consequências severas. como escreveu Carole Cadwalladr, "2016 foi o início de um período que está se concretizando em 2024 com a reeleição de Trump". a partir daqui, estaremos sumbersos em um total caos informacional intencionalmente programado. uma paisagem midiática que parece um aterro informacional, no qual ficou quase impossível separar o lixo daquilo que presta. gradativamente, os fatos e as críticas com embasamento serão artigos de luxo, restritos a assinantes e protegidos por paywalls.
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