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VIBES: EMPUXO À NOSTALGIA
o que a insistência pelo saudosismo tem a dizer sobre o nosso tempo?
“o futuro não é mais como era antigamente” — a provocação do poeta francês Paul Valery nunca pareceu tão atual. isso porque macrofatores, como a crise climática e as recorrentes atribulações econômicas, deixaram o mundo movediço demais para imaginarmos futuros inspiradores e aspiracionais. um mundo em que permacrise é escolhida a palavra de 2022.
na tormenta do Presente Extremo, é de se esperar que a gente se sinta cada vez mais Fora-do-Tempo. e, nessa dança dos calendários, o senso de distopia passou a ocupar um lugar de cadeira cativa na cultura de massa. quando a realidade se torna frágil demais para sustentarmos o olhar para frente com otimismo, recorrer a imagens do passado parece mesmo uma boa (ou única) saída, não é mesmo?!
da histeria pelo Y2K ao #fetishcore; do maníaco retorno ao disco ao suposto saudosismo pela moda brasileira. a noção de “novo” tem sido povoada por um imaginário de distorções/idealizações do passado.
a obsessão pelo Retrofuturismo reflete uma espécie de colapso temporal, retomando futuros previstos em outras épocas, de cinemas drive-in à corrida espacial. um resgate romantizado de referências passadas que (re)projetam o futuro. os mais de 700 mil membros da comunidade Retrofuturismo no Reddit descrevem essa fissura com precisão: "os fantásticos e delirantes sonhos do nosso passado."
falando em delírio, impossível esquecer que um dos argumentos centrais do movimento de extrema-direita é o resgate de passados supostamente gloriosos, uma volta ao que nunca houve. make it great again. nostalgia não é só recurso criativo, é também posicionamento político, e isso coloca em xeque nossa capacidade de inventar um novo amanhã.
essa parece uma crise imaginativa. até porque, mais difícil do que viver em um “eterno presente” é viver um “hoje que não tem amanhã". nesse sentido, o futuro demanda emancipação. a psicanálise pode nos ajudar. a atemporalidade do inconsciente nos mostra que é impossível identificar uma continuidade razoável no campo mental. não existe noção de presente sem algum retrogosto de passado, e não existe qualquer possibilidade de futuro sem alguma apreciação do presente.
esse é o tal Iluminismo Obscuro do qual fala o filósofo Franco Berardi na sua obra “Depois do Futuro” — uma espécie de futuro bem menos brilhante do que o futuro que a gente vislumbrava no passado.
foi à luz desse contexto, que o escritor, psicanalista e pesquisador da float, André Alves, deu uma entrevista ao MECA Journal, falando sobre como a retromania e o mood “saudade do que a gente nem viveu” constituem a vibe de EMPUXO À NOSTALGIA, que, paradoxalmente, já se tornou tão característica do nosso tempo.
leia aqui a entrevista na íntegra… e, quem sabe, (ainda) nos vemos no futuro?