há algo muito simbólico no fato de que um dos maiores criadores de conteúdo do mundo se chama apenas Dream. com quase 3 bilhões de visualizações, Dream faz streamings de suas criações para os mais de 100 milhões de jogadores do Minecraft e venceu o prêmio de Content Creator of the Year no The Game Awards de 2021. recentemente, a sua fama foi potencializada após finalmente revelar o rosto humano por trás do seu avatar, com o vídeo "hi, I’m Dream", que já foi visto 47 milhões de vezes.
o que mais chama atenção no conteúdo de Dream é a criatividade e o surrealismo de suas narrativas a partir da sua habilidade de reprogramação da realidade virtual. seus conteúdos subverte as lógicas do universo dos games através de temáticas fantasiosas e inesperadas como “Minecraft, mas a gravidade muda a cada minuto…” ou “Minecraft, mas chovendo lava…”. assim como acontece no mundo dos sonhos, Dream suspende as regras do espaço/tempo para imaginar e construir novos universos dentro do jogo (que, em si, já é um universo a parte).
como dizem Colin e Samir (criadores de conteúdo que criam conteúdo para criadores de conteúdo 🤯), uma das principais táticas de Dream é simples: a teoria da vaca roxa, um conceito que vem lá do Purple Cow, livro que está completando 20 anos e que já inspirou muitos empreendedores e publicitários a serem mais "disruptivos", como se diz no mercado.
escrito por Seth Godin, um dos precursores do marketing online dos anos 2000, a premissa do livro é óbvia e didática: uma vaca roxa faz você parar o carro na estrada para reparar em algo que você geralmente ignora. a vaca roxa não precisa ser necessariamente mais bonita ou produzir um leite mais nutritivo que as outras, mas ela se destaca porque tira o motorista do automático.
sabemos que, hoje em dia, ser uma marca ou um(a) criador(a) de conteúdo e conseguir ter algo interessante e atraente para comunicar é basicamente 1) enfrentar um tempestuoso oceano de alta competitividade 2) desvendar regras algorítmicas que ninguém sabe bem como operam e 3) lidar com uma crise generalizada de foco na audiência.
todo mundo está falando, mas poucos estão escutando por muito tempo. justamente por isso, há algo intrigante no estímulo aparentemente "sem sentido" que praticamente nos obriga a parar, assistir, contemplar e internalizar para tentar produzir algum sentido naquele conteúdo absurdo.
essa pausa forçada frente ao que nos é estranho, ou ainda, estranhamente familiar, é o que Freud chamaria de Das Unheimliche (o inquietante e infamiliar). é aquela sensação de: "afinal, o que é isso? eu gosto?… me lembra uma coisa, mas não sei explicar…"
nas últimas semanas, as redes também foram tomadas por imagens de avatares criados com a ajuda de inteligência artificial (IA). por um lado, há um maravilhamento com a capacidade da máquina gerar "selfies bonitas" mas também estranhas, imagens na fronteira entre "selfies impossíveis" e "imagens hiper-realistas". nesse sentido, o prefixo "hiper" indica algo que está muito além da realidade, que está no próprio título do recurso: “magic avatars". como escrevemos no Design Threads no fio Deux Ex Machina, parece que o interesse de quem compartilha está exatamente no fato da máquina gerar imagens irreais, como um recurso mágico que coloca a autoimagem num limiar entre real e ficcional, ideal e concreto. uma imagem do LENSA ou do DALL-E parece um sonho tido por uma Inteligência Artificial em que nós somos apenas o resíduo diurno.
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