sonder (a palavra do momento na gringa), bilionários influs e soft clubbing
uma breve seleção de objetos culturais, linguagens, casos e fofocas que você não sabia que queria ficar sabendo.
sonder, a palavra do momento (na gringa)
a palavra mais disputada nesta rede, principalmente nas gringas, é um substantivo que tenta capturar um sentimento gigante: aquilo que bate quando olhamos pra fora e percebemos que cada pessoa que a gente encontra tem uma vida tão complexa e rica quanto às nossas.
sonder foi um termo cunhado no projeto The Dictionary of Obscure Sorrows, que começou como um canal de youtube e site, lá em 2015. a ideia foi criar palavras para sentimentos “obscuros” que fazem parte da experiencia coletiva. o projeto foi desenvolvido pelo autor, videomaker, e ator John Koenig, cujo trabalho foi definido pelo Washington Post como uma criação a la pinocchio. isso porque suas palavras reverberaram, tomaram vida própria, e ressurgem na internet e em nossas mentes de vez em quando. no tiktok, a palavra geralmente surge com a narração do artista Brent Faiyaz, que faz parte de um grupo musical de R&B chamado sonder.
nas redes sociais, vemos milhares de tatuagens feitas em homenagem ao termo. mas… por quê? talvez a explicação venha do fato de que este é um sentimento que traz um pouco de humildade para tempos tão autocentrados. é um ode ao “nem tudo é sobre você”. sonder é o oposto da síndrome de protagonista.
há algo extremamente mecanizado no cotidiano atual, principalmente nas grandes cidades: acordar cedo, ir pra estação, pegar ônibus, pegar outro ônibus, pegar trem, pegar metrô para enfim chegar no trabalho, então finalmente trabalhar e fazer todo o caminho de volta. mas em algum momento, você ouve a conversa do seu lado e percebe que existem outras vidas, quase como uma epifania que te tira de um transe do eu — isso é sonder. algumas pessoas honram o conceito mesmo sem saber, como os passageiros da linha 5652, que fazem do café da manhã o personagem principal.
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sonder é compreender que nós somos os personagens principais, mas só das nossas vidas. ou como vemos em The Bear, o personagem principal talvez não seja a coisa mais importante. a série ilustra muito bem a leve melancolia de sonder: durante 4 temporadas, vamos nos aprofundando nas complexas vidas de personagens que, de fato, não se conhecem tanto assim. no final, a gente acaba se apaixonando pelo coletivo, pelo todo, pela multiplicidade de estranhezas daquele grupo. e o que isso quer dizer? talvez que o empuxo ao individualismo em que estamos vivendo, cada um na sua tela, no seu mundo, provoca essa mistura de tristeza, maravilhamento e muita solidão. e que, exatamente por isso, as pessoas estão dispostas e procurando se sonderizar.
talvez, como Ajjulia Costa falou em um podcast recentemente, a gente esteja precisando sair mais (de topinho e mini saia) de casa e ver o céu, e as pessoas. porque quando paramos de olhar pra dentro e olhamos pra cima, nos permitimos a chance de ver o outro e nada melhor do que ser surpreendido por outros mundos. possivelmente estamos também cada vez mais nos colocando em um caminho de um futuro coletivo, esse que vai contra o Século do Eu (ainda?) e não permite mais a sustentabilidade das Intimidades Sintéticas, e que volta a convivência em comunidade.
para uma geração criada à base de distopias (jogos vorazes, eu te amo) esse mini-indício de coletividade parece uma dádiva. porque na real dá um dado de esperança para essa galera Gen Z (como eu), que cresceu achando que não existiria futuro. ainda que o final seja apocalíptico e a gente tenha que se juntar para matar zumbis, se sonder deixa de ser só uma palavra do momento e vira um jeito de viver, quem sabe a gente possa matar zumbis com um café da manhã coletivo?
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