refs. #32 Psicodelia Terapêutica
estamos vivendo uma Renascença dos Psicodélicos ou do Capitalismo Psicodélico?
se a sociedade está doente, por que está todo mundo se medicando? uma das máximas mais recorrentes do contemporâneo é sobre uma vida desencantada que paira no ar. apesar dos recordes de venda de medicamentos psiquiátricos, os distúrbios mentais vem se tornando cada vez mais prevalentes. precisamos reconhecer as limitações dos psicofármacos como única saída, ainda mais quando apenas 5% dos brasileiros fazem terapia, mas 1 a cada 6 usam medicamentos.
depois de umas boas décadas, estamos presenciando um retorno bastante consistente do uso de psicodélicos, naturais e sintéticos, para tratamentos de saúde mental. desde os anos 70, existe uma guerra desenfreada generalizada (e até cínica) contra as drogas, mas obviamente não contra os psicofármacos, bem pelo contrário. no entanto, nos últimos anos as pesquisas científicas e clínicas com psicodélicos voltaram a acontecer em diversos países, inclusive no Brasil - apesar de todo o falso moralismo que sabemos que existe no país.
este movimento é o que vem se chamando de Renascença dos Psicodélicos. com a premissa de que a “terapia psicodélica tem o potencial de revolucionar a saúde mental”. a psilocibina e o MDMA estão sendo descritas a maior inovação desde o Prozac. as universidades querem participar, assim como o mercado.
muitas pessoas, no entanto, temem que a pressão para facilitar o acesso possa trazer consequências indesejadas. segundo o Datafolha, 43% dos brasileiros apoiam a uso medicinal, enquanto 46% é contra. a questão é que não dá pra demonizar e nem para glorificar esse movimento. afinal, temos muito a elaborar...
os estudos e tratamentos precisam de sessões controladas e supervisionadas, e obviamente não são indicadas pra qualquer tipo de caso. os psicodélicos podem ser pouco revolucionários como tratamento se não houver crítica sobre o que chamamos de “terapia”. então, cabe a gente também se perguntar: o que tudo isso tem ou pode ter a ver com psicanálise?
para elaborar essas e outras questões, contamos com a participação do psicanalista e doutor em psicologia clínica Rodrigo Alencar.
e para ampliar ainda mais a discussão, reunimos algumas referências que nos ajudam a articular este tema com a profunidade que merece. lembrando que o Vibes em Análise está com uma parceria com a livraria on-line Dois Pontos, que faz uma curadoria incrível de publicações, além de muito conteúdo pra que você encontre o livro que procura e o que nem sabia que estava procurando.
você pode comprar muitos dos livros que indicamos no episódio com 20% de desconto usando o nosso cupom "FLOATVIBES"
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1. PSICONAUTAS — MARCELO LEITE
no livro, o jornalista conta a história das principais drogas psicodélicas, desde sua descoberta no século 20 até o uso medicinal revolucionário que vem sendo feito de cada uma delas. o prefácio traz contribuições de Sidarta Ribeiro que, junto de especialistas como o psiquiatra Luís Fernando Tófoli, vêm investigando a revolução científica da última década — um esforço importante para recolocar as substâncias psicodélicas no centro da psiquiatria do século 21. aliás, vale acompanhar os artigos do Marcelo Leite na Folha de São Paulo.
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2. TEONANÁCATL: PODE UM COGUMELO PSICODÉLICO INTERESSAR AO PSICANALISTA? — REVISTA LACUNA
um belo ensaio publicado na Revista Lacuna que elabora possibilidades de articulação entre a psicanálise e as ciências psicodélicas. o artigo nos ajuda a pensar na elasticidade do espectro de experiências possíveis, da extrema satisfação com profundos insights, processos de cura, abertura ao conhecimento pessoal, até as experiências de angústias abismais e desorganizadoras (bad trips). é interessante pensar como os efeitos estão profundamente ligados a três fatores básicos: o ambiente de uso e o contexto social, ou setting; a qualidade/quantidade da substância psicodélica; e o sujeito em si e a estrutura ou estado psíquico no qual se encontra.
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3. COMO MUDAR SUA MENTE — MICHAEL POLLAN
o best-seller do consagrado jornalista estadounidense narra a história do renascimento das pesquisas com esses compostos, depois de tantos anos de coibição e esquecimento. Pollan se dedicou a muitas experiências com alucinógenos, pesquisando os potenciais efeitos das substâncias para a saúde mental. ele conta ainda a história do ópio e da mescalina, além de questionar: por que a cafeína não é proibida? o sucesso do livro impulsionou uma série na Netflix. e também vale ler a entrevista do Michael Pollan para a Revista Gama.
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4. OS COGUMELOS MÁGICOS PODEM ALIVIAR A DEPRESSÃO? — ROSALIND WATTS
o famoso TED talk de Rosalind Watts sobre o potencial da terapia psicodélica. a psicóloga é conhecida por desenhar um método com diferentes etapas para o tratamento com essas substâncias, além de muitas pesquisas sobre o tema. o artigo que ela publicou sobre o que aprendeu desde a palestra no TED em 2017 também é muito valioso, já que nos faz pensar sobre como o Capitalismo Psicodélico pode ser danoso à sociedade:
“Vejo esse retrocesso atual em relação ao retrocesso do passado como uma onda de propaganda exagerada, promessas exageradas, pensamento mágico, marketing, frases de efeito simplistas, acionistas esperançosos, corrida pelo ouro.”
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e seguem outras referências para abrir a nossa cabeça:
— uma investigação da relação com substâncias pela ótica da psicanálise que fizemos no episódio Caminhos do Vício;
— o afiado texto do Sidarta Ribeiro sobre como a cannabis pode ser uma revolução comparável à penicilina. aliás, o artigo traz uma quantidade maravilhosa de referências;
— o vídeo do Big Think sobre como os psicodélicos funcionam;
— esse grande ensaio sobre A Experiência Psicodélica e seus efeitos na cultura;
— a alucinante poesia andarilha da geração Beat com Um Parque de Diversões na Cabeça de Lawrence Ferlinghetti;
— o podcast da The Economist sobre os psicodélicos revolucionando a medicina;
— o episódio do Café da Manhã da Folha sobre a regulação da maconha no Brasil, uma entrevista o advogado Cristiano Maronna, autor do livro Lei de Drogas interpretada na perspectiva da Liberdade;
— o livro História Social do LSD no Brasil: os primeiros usos medicinais e o começo da repressão, de Júlio Delmanto;
— o artigo da Vice sobre o uso de MDMA e ketamina na terapia com casais;
— As Portas da Percepção, obra clássica de Aldous Huxley, um dos primeiros livros a descrever, com sinceridade e curiosidade, o uso de drogas alucinógenas;
— Drogas para Adultos, o livro fundamental do Carl Hart que nos faz pensar sobre o uso de drogas recreativas, com destaque para a entrevista que o Dr. Drauzio Varella fez com o autor;
— A Erva do Diabo, mais um dos clássicos para pensarmos na relação do sujeito contemporâneo com as drogas;
— o Guia do Explorador Psicodélico, livro que nos orienta a ter experiências psicodélicas mais seguras.
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boas viagens e até o próximo episódio! <3