refs. #24 Solidão Gay (pt. 2)
os desafios para cultivar o desejo, formar vínculos e ir além da performance de indisponibilidade... e alguns links para ir além.
— homens gays sentem mais solidão do que heterossexuais?
nunca foi fácil se relacionar, mas parece que ficou ainda mais difícil no vale 🌈. muitos homens gays sentem que nunca vão encontrar um parceiro — ou que ninguém mais está afim de um relacionamento. ou, ainda, sentem-se profundamente sozinhos, mesmo estando em um relacionamento.
já outros se queixam que anda difícil ter amigos com quem podem realmente contar — uma rede de apoio que dê um verdadeiro suporte emocional. sobram crushes, seguidores, contatinhos, mas muitos gays tem sido atravessados por um profundo sentimento de solidão. é como aquele meme “choro de gay... Deus não escuta”.
a solidão é algo que se experimenta quando algo falta nas relações. é quando a palavra não consegue circular, e o sujeito se sente travado e isolado. é como se existisse uma película — ou uma redoma — entre o sujeito e o outro, algo que nos impede de sentir o calor do acolhimento, do toque, da palavra. sempre vai faltar algo, e é difícil lidar com essa falta, mas, curiosamente, é exatamente nos tempos mais conectados da história que vivemos a tal Epidemia de Solidão. e para o homem gay, há ainda outros fatores culturais e comportamentais para complicar o cenário.
a solidão tem sido apontada como uma das principais razões de adoecimento psíquico, um fenômeno que é ainda mais crônico na comunidade LGBTQIAP+. quadros de depressão afetam 10% dos adultos brasileiros (IBGE). esse índice sobe para 25% em um recorte LGBTQI (Inquérito Nacional de Saúde). pesquisas em diversos países mostram que homens gays tem menos parceiros fixos, menos amigos próximos e maior risco de suicídio que os homens héteros.
para a psicanálise, a saúde mental é sempre um reflexo de como a gente viveu e vive a nossa sexualidade. para o recorte LGBTQIA+, esse é um assunto especialmente sensível. afinal, descobrir e compreender a própria sexualidade vai ser sempre um processo individual que se faz, no fim das contas, sozinho. mas em um mundo que parte do pressuposto que você seja heterossexual (ou "normal", como ainda pensa a maioria), esse caminho com certeza vai ser bem solitário.
Solidão Gay foi o nome do 2º episódio do Vibes em Análise, lá em 2021. não dá pra dizer se essa VIBE aumentou ou diminuiu desde então, mas com certeza percebemos novos sinais que merecem a nossa atenção.
atendendo a pedidos, aqui está então: Solidão Gay parte 2, o retorno.
a homossexualidade masculina tem um histórico controverso na psicanálise. muitas vezes, fala-se no desejo desses sujeitos como uma versão invertida da norma. mas será que é tão “simples” assim? o que há além da escolha do objeto? como diz um dos convidados desse episódio, o psicólogo e escritor Lucas Veiga:
“o medo da rejeição — que é, primariamente, um medo que a família me rejeite por eu ser gay —, pode ser atualizado quando o outro se aproxima demais de mim e vê coisas minhas que eu não mostro, que eu não falo. vê quem eu sou, vê minha humanidade.”
por mais orgulho que se tenha — e/ou se performe — muitos sujeitos carregam resíduos de vergonha, ódio e conteúdos traumáticos. o “desejo gay” mistura prazer, asco, desejo, repulsa, dissidência e normatividade. tensões que não se resolvem com o “direito ao casamento” e campanhas pródiversidade. como alerta outro dos nossos convidados, o psicólogo e sexólogo Rigle Guimarães:
“me parece que estamos perdendo a capacidade de lidar com o outro como ele é, se guiando pela ideia de como gostaríamos que ele fosse — o que resulta, obviamente, em mais solidão.”
nesse contexto, aparecem muitas estratégias confusas: performance da indisponibilidade, ética do carão, vidas idealizadas, corpos inatingíveis, homonormatividade, homocombatividade. ou, nas palavras do nosso convidado Rafael Cavalheiro, doutorando e mestre em psicanálise:
“acho que a gente cai em uma lógica puramente imaginária na qual a prevalência do olhar é tanta que se deflaciona o sentir. e será que aí a gente não pode também falar em solidão?”
para ampliar a discussão, seguem abaixo algumas referências bibliogáficas que nos ajudam a articular e aprofundar esse tema que vem atravessando tantas subjetividades na comunidade gay:
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