Os 15 capítulos do Vibes em Análise
de onde partimos (e onde chegamos) na construção do livro inspirado no podcast.
VIBES EM ANÁLISE: Psicanálise para escutar as vibrações da cultura contemporânea
lançado em Novembro de 2023 pela Editora Nacional, o conteúdo de 15 episódios do podcast foi aprofundado neste livro, ganhando novos comentários e uma vasta quantidade de referências para cada tema, incluindo novos artigos, estudos e publicações.
partimos de 3 premissas sobre a nossa visão do que pode ser uma Psicanálise Contemporânea:
A gente vive a psicanálise não só nos estudos e na clínica, mas na observação do mundo, do outro e de nós mesmos.
A psicanálise é uma fonte de estudo e tratamento que preserva, a qualquer custo, a singularidade de qualquer um, sem nunca abrir mão de tentar "alcançar, em seu horizonte a subjetividade da sua época". (Lacan)
A psicanálise é um dispositivo que contribui para a formação das narrativa do sujeito e da sociedade — e nesse sentido, ela pode nos ajudar a transformar algumas coisas.
VIBES DO EU
já que a cultura anda explicitamente narcisística e estamos tão ensimesmados no próprio Ego, iniciamos o livro VIBES em ANÁLISE com o que vem tanto chamando (e até consumindo) a nossa atenção e a nossa libido: o Eu.
em tempos de hiper-investimento no Eu, vivemos um grande frenesi por autoconhecimento — uma promessa fundamentada pela:
1) busca por empoderamento individual;
2) autocobrança pela sensação de estar sempre bem consigo;
3) e a Crença de que o Eu está acima de tudo e todes.
o Show do Eu é movido a comandos como "auto-amor é um exercício diário" e "como você vai amar o outro se não ama primeiro a si?”
é interessante… mas podemos ir além da opressão hiperegóica e happycrática destes discursos? o Eu, diante do espelho (ou da lente da câmera), interroga-se: "como posso viver melhor na minha própria pele?”
VIBES DO OUTRO
na 2ª parte do livro VIBES em ANÁLISE, entramos nos campo dos relacionamentos — os vínculos que estabelecemos (ou deixamos de estabelecer) com os tantos ‘pequenos outros’ que habitam nossas vidas.
quais são os enigmas e impasses das nossas relações com o outro?
o outro ocupa o lugar de objeto-causa-do-desejo, e nos convoca a lutar por amor, validação e reconhecimento. e é assim que formatamos a nossa própria imagem, nosso valor e identidade.
o trabalho de análise vem da necessidade contínua e interminável de recalibrar a relação do Eu com o outro. sua presença, sua ausência e as diferentes modalidades de interação com o outro nos provocam a mais ampla gama de sentimentos.
se podemos adoecer na relação com o outro, vale lembrar que é também onde podemos nos curar.
VIBES DO OUTRO
na parte final do livro VIBES em ANÁLISE, colocamos algumas questões fundamentais da sociedade e da análise cultural no centro da discussão.
como a psicanálise pode nos ajudar a navegar o ethos da nossa época, os modos de pensar e viver o mundo?
quando o mundo nos atravessa com estímulos, lógicas, sistemas e ideologias prontas para capturar nossa subjetividade, pode ser bem difícil (ou impossível) mudarmos a nossa mente e os nossos comportamentos, por conta própria.
muitas vezes resistimos às mudanças do nosso tempo, e isso não é algo necessariamente ruim. é o anacronismo que nos salva, ao menos um pouco, de sucumbir ao mal-estar contínuo na cultura.
ou seja, adaptar-se rápido demais pode ser uma grande armadilha se não fizermos uma boa reflexão sobre o que está acontecendo.
se o mundo está de cabeça para baixo, devemos convocar esta mesma loucura para conseguir pertencer?
uma cultura pautada por vibes é o que acontece quando a especulação e a velocidade tornam-se valores centrais, quando hype vira sinônimo de valor. sujeitos radicalmente digitais são convocados a criar, replicar e compartilhar praticamente tudo que ressoa com seus psiquismos momentâneos, seus estados mentais, suas posições e oposições.
ao mesmo tempo, vibes também se tornaram uma estratégia para lidar com a máquina de apropriação e esvaziamento do mercado.
em um contexto no qual qualquer ideologia, tendência, subcultura ou grupo psicodemográfico pode ser embalado e vendido às pressas, vibes parecem mais intangíveis e difíceis de serem cooptadas. ou talvez, essa seja só a nossa fantasia (e intenção) aqui compartilhada.
— boa leitura e até 2024 para novas vibrações! 🫨