criminosos fashion, Nosfegato e erros perfeitos do PTBR
uma breve seleção de objetos culturais, linguagens, casos e fofocas que você não sabia que queria ficar sabendo
criminosos fashion
a profunda obssessão por Luigi Mangione, que é celebrado como Robin Hood justiceiro entre os tiktokers, dominou o final de 2024. para quem perdeu o bonde, o estadunidense foi acusado de matar o CEO do plano de saúde UnitedHealthcare, como reparação pela negação à assistência de seus avós. existem outras especulações do motivo que o teria levado a cometer o assassinato e a defesa de Mangione nega que ele é o assassino. qualquer que seja a história "real”, o descaso dos planos de saúde com seus clientes é uma experiência universal e as pessoas parecem não ter dó de quem não tem dó delas.
com isso, o fã clube do jovem bem apessoado foi inaugurado com sucesso pelo mundo todo. já é possível adquirir velas do “São” Luigi Mangione, camisetas do homem descamisado e até… o seu look de tribunal. depois de aparecer numa audiência com um suéter burgundy, a peça evaporou das lojas, tanto no dupe de mil dólares da Maison Margiela, quanto numa versão mais fiel da Nordstrom de US$62.
a inesperada fashion week do tribunal tem sido uma constante em julgamentos de justiceiros (ou nem tanto) que são aclamados pela internet — e de famosos que parecem simplesmente injustiçados, aos olhos dos fãs. o mesmo aconteceu com Gwyneth Paltrow em 2023, processada por um oftalmologista por, pasme, uma trombada numa pista de esqui para iniciantes.
a comoção também rolou com nossa icônica (e nada inocente) Dra. Deolane Bezerra durante as investigações de seu envolvimento com casas de apostas. e não vamos esquecer do perfil de Instagram que documentou os looks de tribunal da famosa impostora russa Anna Delvey.

para além dos looks, vale pensar na construção da mitologia de um réu que é visto como justiceiro na análise muitas vezes superficial das redes. talvez isso tenha começado há muito tempo, a partir da divulgação de mugshots, o retrato fotográfico de quem foi acusado de um crime. muitos desses registros passaram a ser símbolos de luta por uma sociedade melhor (como a imagem de Martin Luther King, Rosa Parks ou Jane Fonda) e, mais recentemente, de rebeldia contra normas caretas (como a imagem de Lindsay Lohan, Paris Hilton ou Justin Bieber).
todo mundo quer estar do lado "certo" da narrativa. mas qual é o lado? quando a Justiça diz que há um lado errado, melhor ainda: você pode se tornar um grande visionário se conseguir ir contra o sistema. sabemos como é tentador querer ser ou viver na órbita de um bad boy ou bad girl…. é o que a contracultura da cultura pop diz ser cool, desde sempre.
no entanto, a fetichização e consequente banalização dessas imagens podem ser facilmente distorcidas para a criação de figuras um tanto perigosas. nem todo desvio de conduta que leva a uma mugshot é supérfluo, nem todo famoso que tira uma mugshot é injustiçado. na verdade, a princípio, a maioria das pessoas que têm uma mugshot são, de fato, criminosas. o vínculo frequente de infratores famosos à rebeldia política ou de comportamento, pode abrir alas, inclusive, para discursos golpistas de quem se diz "contra o status quo”, mas que estão na realidade estão apenas tentando aplicar o "seu próprio status quo" e sair ganhando com isso.
voltando aos looks: só se fala do look de Melania Trump, por enquanto fora do tribunal, na posse do marido. o bafafá se deu por forçar a barra com uma estética austera que remeteu ao fascismo europeu. isso sem falar no aterrorizante look de Ivanka Trump usado na mesma ocasião, que foi comparada a personagem Serena joy de ‘O Conto da Aia’. difícil acreditar que seria uma mera coincidência.
enquanto os looks do tribunal são acidentalmente icônicos, esses, pelo contrário, são, provavelmente, friamente calculados. é aquela história: contexto é tudo e com a quantidade de informação disponível… ninguém é inocente.
é mesmo a era do ILUMINISMO DAS TREVAS, afinal. e cabe a nós escolher o que glamurizar com consciência.
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