a graça de ser básico/a, true crime ultraprocessado e lancheira-ostentação
uma breve seleção de objetos culturais, linguagens, casos e fofocas que você não sabia que queria ficar sabendo.
a graça de ser básico/a
levar uma vida cronicamente online é sentir-se sempre um passo atrás do que “todo mundo” está fazendo, comendo, ouvindo, usando, assistindo ou comprando e, aparentemente (do nada) vem aquela sensação de que você é a única pessoa que não sabia da trend ou meme da semana. viver à mercê do algoritmo é experimentar um soterramento diário de microtrends e febres que queimam rápido.
office siren, mob wife, Adidas Samba, mermaidcore, a capinha de celular porta-gloss da Rhode, cacareco girls, ghiblification, os bonequinhos do chatGPT. quando passamos a consumir na lógica de memes, tem sempre outra trend prestes a sequestrar nossa atenção e nosso bolso. acompanhar à risca esse ritmo é correr o risco da falência e, claro, de desorientação ética, estética, cognitiva. como bem diz o artigo do New York Times, paira no ar um sentimento de esgotamento, especialmente entre os mais jovens — justo a suposta ditadora-e-seguidora de tendências GenZ. o excesso nunca pareceu tão excessivo.
o enfadamento se junta ao momento econômico de recessão-iminente e diminuição do poder de compra numa escala global. como os estadounidenses vão fazer agora suas comprinhas from China na Shein após o tarifaço... é realmente problema deles.
e qual é a atitude de consumo perfeita para lidar com momentos de complexidade excessiva? o básico. ou melhor, os 50 tons de básico que tomaram a internet. looks básicos, minimalismo, quiet luxury, indie sleaze, até mesmo o fubangacore, underconsumption core… se algum um dia “basic(a)” já foi ofensa, parece que nem lembramos mais dessa época. cafona hoje é xingar o básico de cafona.
uma análise da Agus Panzoni e um artigo da Dazed concordam que o que separa o básico-sem-graça do básico-cool são detalhes tão sutis que podem passar despercebidos por quem não entende o contexto. e, como bem dizia o filósofo e semiólogo Roland Barthes, “um detalhe é suficiente para transformar o que está fora do significado em significado, o que está fora de moda em moda”.
a influenciadora de moda Mina Le, que construiu sua marca justamente por ter um estilo excêntrico vintage, também decidiu ser básica recentemente porque “viu que o estilo pessoal estava deixando sua vida mais difícil”, o que ela explora minuciosamente no ensaio em vídeo “the death of personal style” (ou “a morte do estilo pessoal”).
para deixar o básico ainda mais complexo, temos a volta do termo normcore na mídia. complexo porque a tendência frequentemente associada aos uniformes anos 1990 no melhor estilo Steve Jobs e Jerry Seinfeld era, na verdade, um outro movimento apontado pelo famoso relatório que cunhou o termo: acting basic. se acting basic se referia de fato a uma neutralidade forçada para evitar se destacar, normcore dizia respeito a uma adaptabilidade radical e a fluidez identitária.
para muito além de uma auditoria anatomia da tendência, o que importa é que a confusão entre normcore e acting basic evidencia como não é fácil compreender o básico. afinal, versatilidade, adaptabilidade e evitação são ingredientes igualmente importantes. uma atitude básica é se colocar acima de todos os que estão tentando chamar atenção e, ao mesmo tempo, não ter nenhuma vergonha de pertencer e ser igual a todo mundo.
tudo isso nos lembra de como não se pode subestimar o que é básico, muito menos complicá-lo demais. e, acima de tudo, jamais tratar “básico”, “simples” e “comum como sinônimos. no começo de 2025, a Vogue Business disparou que “microtendências estão mortas; vida longa às vibes”. (!!!)
é difícil saber o que isso significa de fato. mas o que parece nítido nesse retorno ao básico é um interesse cada vez mais massivo em atravessar o estado de FOMA (fear of missing anything / medo de perder qualquer coisa). e isso começa exatamente com um afastamento da especificidade rígida dos -COREs. pelo menos até que venha o próximo... 🫨
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